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Que coincidência que hoje mesmo eu estava rascunhando um texto sobre sonhos, mas num sentido um pouco mais amplo do termo, como algo que não se restringe à parte do dia em que estamos dormindo. Porém, ainda vai demorar muito para eu publicar esse texto (e outros que ando rascunhando), meu plano é começar no ano que vem mesmo. Mas bem, o que ia comentar mesmo é que essa racionalização e preenchimento de lacunas que realizamos na tentativa de nos lembrarmos dum sonho é, no fim das contas, apenas uma repetição mais deliberada e consciente do próprio processo de construção da experiência do sonho; ou a "experiência" do sonho é ela mesma recordação duma forma mais primitiva e original de experiência: a experiência de sentimentos, desejos, flutuações do ânimo, etc., que ocorrem durante o sono (que seria um momento em que, devido ao bloqueio da realidade externa, o sujeito se encontra mais sensível aos seus próprios processos internos). Noutras palavras: o próprio sonho é uma racionalização ou interpretação, de natureza mais sensível que verbal, de auto-experiências do sujeito durante o sono; seria um revestimento, à semelhança dos sentidos externos, para um conteúdo apreendido pelos sentidos internos (ligados a uma percepção pura e sem forma, sem projeção de externalidade). Como escreveu o Erich Fromm, em Greatness and limitations of Freud's thought: "Dreams thus can be looked at as the result of an inherent tendency to bend feelings to the requirements of reasonableness". Essa tendência racionalizante, tecedora de narrativas, explicações, justificativas, etc. parece ser o aspecto mais teimoso da nossa psiquê.

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